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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Ciberativismo, cultura hacker e o individualismo colaborativo

O NOVO INDIVIDUALISMO E AS NOVAS FORMAS DE RESISTÊNCIA

 “Um verdadeiro hacker não é uma pessoa de grupos”, escreveu Stewart Brand em 1972. Ou, como ele iria escrever quinze anos mais tarde: “Trabalhadores do mundo, dispersem-se” – conselho que inverte a mensagem de resistência pela unidade encontrada no Manifesto Comunista de Marx e Engels”23 (Galloway, 2004, p. 160). Analisando os discursos que consolidam o pensamento hacker, é possível encontrar uma forte influência liberal, que passa pela defesa intransigente das liberdades básicas que se originaram no processo de consolidação da modernidade. Entretanto, hackers pensam um mundo a partir de códigos que são bens intangíveis. Todo processo de bloqueio ao conhecimento dos códigos é injustificável, pois impede que outras pessoas ganhem autonomia e possam elas próprias criar a partir da recombinação e reconfiguração dos códigos. A cultura e a ética de grande parte dos hackers, principalmente os vinculados ao desenvolvimento de softwares de códigofonte aberto, incentivam a emancipação individual pelo conhecimento. Tudo indica que um pensamento típico-ideal do hacktivismo passa por considerar que o custo da liberdade é o conhecimento. Ninguém pode ser autônomo em uma rede lógica se não sabe quem está no controle e o que estão fazendo com o seu computador. Hackers do Floss têm um comportamento extremamente meritocrático. Ao mesmo tempo, seu hiperindividualismo é construído em processos colaborativos. Os desafios encontrados nos códigos e na aplicação dos protocolos devem ser enfrentados, e os resultados de sua superação devem ser informados a todos. O conhecimento deve ser livre para que os outros possam contribuir enquanto ganham mais autonomia no processo de aquisição de conhecimento para si. Seus grupos são menos parecidos com instituições do que com multidões que se formam e desaparecem a depender das motivações de cada um de seus formadores. Consequentemente, hackers realizam um novo modo de resistência que passa pelo conhecimento e pela autoformação de indivíduos autônomos e colaborativos. Isso porque os hackers exploram as falhas dos protocolos, suas propriedades e suas formas de controle. “O objetivo não é destruir a tecnologia como apregoam algumas ilusões neoluditas, mas para empurrá-la para um estado de hipertrofia, indo mais longe do que ele pretende ir”24 (Galloway, 2004, p. 206). Nesse sentido, o verbo “hackear” deve ser entendido como “reconfigurar”, explorar novas características, ir além do que os protocolos delimitaram, buscar a superação do controle.

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